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Chico Buarque e Fabrizio de André: poéticas cancionais comparadas

  • Foto do escritor: Alexandre Pilati
    Alexandre Pilati
  • 17 de mar.
  • 2 min de leitura

A seguir, apresentamos texto de Maristella Petti sobre o livro Chico Buarque e Fabrízio de André Anos de chumbo. O livro é resultado da tese de Doutorado de Maristella, desenvolvida em regime de co-tutela (Universidade de Brasília / Università Roma Tre). Foram supervisores do trabalho os Professores Alexandre Pilati (UnB) e Giorgio De Marchis (UniRoma3). A pesquisa desenvolveu-se no âmbito dos trabalhos do Núcleo de Estudos da Canção do Grupo de Pesquisa Literatura e Modernidade Periférica da UnB.


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Chico Buarque e Fabrizio De André: anni di piombo, canzoni di rame é uma publicação resultante da pesquisa doutoral desenvolvida dentro da linha de pesquisa Literatura e Modernidade Periférica da UnB. O título do livro, publicado pela editora italiana Arcana em fevereiro de 2025, apresenta dois ícones da música brasileira e italiana, colocando-os em comparação no contexto dos anos de chumbo, entendidos seja como rendimento literário de certas contingências históricas, seja como conjunto de ocorrências que determina o

ree

nascimento de certa estética.


O trabalho surgiu da intuição de comparar Chico Buarque e Fabrizio De André, de fato parecidos quanto a extração social e apreciação nacional, na tentativa de procurar pontos de encontro e divergência entre duas épocas que, mesmo carregando diferenças nacionais que as afastam, foram entregues à história com o mesmo nome. Disso, de fato, partiu minha curiosidade: viabilizar a possibilidade de desconstruir a definição sensacionalista, que achata especificidades históricas na semântica do chumbo, para enxergar o que sobra da política, da estética e da história para além das etiquetas, e entender o que essas camadas compartilham apesar da distância geográfica.


Para tanto, foi fundamental assumir a dialética como perspectiva crítica capaz de esclarecer a universalidade como síntese formativa dos anos de chumbo mediante o aprofundamento das sugestões locais, o que é finalidade desejável da análise comparativa. Essa abordagem permitiu que todos os elementos envolvidos na comparação fossem analisados e sintetizados na conjuntura da relação entre fenômenos e contextos: seja os gêneros MPB e canzone d’autore, seja os processos de criação e publicação cancional dos dois cancionistas, seja suas implicações cívicas, destacável em ocorrências de censura e vigilância, seja o diálogo entre composições de um e de outro, possibilitado pela individuação de três amplos temas, além de um retrospectivo, que pudessem definir a essência do rótulo sensacionalista que define o período, demarcando traços que acomunam as razões da nomenclatura.


O que nasceu como intuição quase que aleatória revelou-se fundado: a notoriedade de Buarque e De André, envolvida nas dinâmicas da indústria fonográfica, consolidou-se justamente naqueles anos no âmbito do fenômeno da música popular e, então, o engajamento das suas existências e poéticas foi algo historicamente determinado. Da mesma maneira, a contemplação do nascimento e afirmação desses gêneros e a sua contextualização histórica pode consistir em uma ocasião para enxergar alguns dos tantos fatores que acomunam Brasil e Itália, indo para além da etiqueta jornalística global que define os mesmos anos, e encontrando, nos conteúdos e nas formas de duas das mais representativas poéticas cancionais, o sentido da via de escape popular de uma cultura erudita, que reflete a impressão de um mundo em movimento e para sempre esticado, na dimensão da canção, rumo a um futuro de cobre, “di rame”, e não de chumbo.


Maristella Petti, março de 2025

 
 
 

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