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Considerações sobre a coletânea de contos de Machado de Assis

  • Foto do escritor: Alexandre Pilati
    Alexandre Pilati
  • 25 de abr.
  • 2 min de leitura

Por HOMERO VIZEU ARAÚJO


“Que é demasiada metafísica para um só tenor, não há dúvida; mas a perda da voz explica tudo, e há filósofos que são, em resumo, tenores desempregados”

(Machado de Assis, em Dom Casmurro)


1.


A coletânea Papéis avulsos (1882) é contemporânea de Memórias póstumas de Brás Cubas, embora seja publicado dois anos depois do aparecimento dos capítulos do romance na imprensa (1880). É um conjunto de contos espantoso em sua criatividade formal e profundidade temática. Vale recordar que Raymundo Faoro encerra seu clássico Os donos do poder com o conto “Dona Benedita”, extraído de Papéis avulsos.


Raymundo Faoro parafraseia sem dar o nome da personagem, o que talvez tenha desnorteado algum leitor menos atento. Em seu tratado sobre os desmandos das elites portuguesa e brasileira, Raymundo Faoro encontrou na simpática e errática Dona Benedita uma fórmula retórica para o desfecho de sua argumentação.


A essa altura do debate, já ficou claro que o romance Brás Cubas e este conjunto de contos alteram irremediavelmente a cena literária em língua portuguesa do século XIX: lidos hoje, romance e contos equivalem a uma intervenção estética e sarcástica na cultura em língua portuguesa do século XIX. Mesmo a perícia narrativa de Eça de Queirós suporta mal o contraste, em particular os contos deste autor não alcançam o nível de textos como “O segredo do Bonzo”, “O alienista” e “Dona Benedita”, cujo caráter experimental é surpreendente.


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Aqui pretendo desenvolver um argumento um tanto unilateral, mas que julgo promissor, ao enfatizar o caráter teórico e/ou filosofante da maioria dos contos de Papéis avulsos, num circuito que vai de “O alienista” a “Verba testamentária”, isto é, do primeiro ao último conto da coletânea. Sobre “O alienista” é fácil discernir a piada um tanto tétrica do conluio entre ciência e poder, que é ilustrada pela trajetória de Simão Bacamarte e sua disposição para intervir, do alto de sua sabedoria inconteste, no cotidiano da pacata Itaguaí.


 
 
 

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